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domingo, 29 de dezembro de 2013

Ano Novo: RECOMEÇAR, EM QUALQUER IDADE - Elen de Moraes Kochman - Publicado no jornal "Tribuna Portuguesa" da CA




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Recomeçar, 
                         em qualquer idade.


Elen de Moraes Kochman

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante, vai ser diferente". Carlos Drumond de Andrade, poeta e escritor brasileiro, foi muito feliz com esta citação.

Pensando sobre o assunto, um final é sempre triste, porque nos fecha uma porta de algum modo, e seja lá o que for que tenha ficado para trás – um amor, um emprego, um casamento, um amigo – nos traz desconforto, porque sabemos que o que passou, passou, é passado. E mesmo que no futuro haja reencontros, reconciliação, “naquele” momento só nos damos conta - e nos deprime - a sensação de perda. O único final que nos enche de contentamento é o de um ano, salvo raras exceções. Não sabemos aonde as pessoas buscam energia para participar de tantas festas! Dão presentes, recebem convidados, gastam o que não podem, e sentem, por vários motivos, alegria por despachar, nos últimos minutos, todas as suas angústias e tudo o mais que não deu certo em doze meses, para então festejar a chegada de um novo tempo.

E tem razão o poeta Drumond: vemos morrer um velho ano, que leva consigo nossas frustrações e perdas e vemos nascer uma nova época. Com ela, a esperança de fazer acontecer uma nova vida. Então fazemos planos, traçamos metas, prometemo-nos tantas coisas e, otimistas, sonhamos. E há coisa melhor para um corpo cansado, um coração magoado e uma alma esperançosa, do que sonhar?

Sonhar, eis a questão!  Não correr atrás dos sonhos, eis a razão para entrar ano e sair, sem que os mesmos se realizem. Esse nosso desejo de chegada e saída dos anos, vezes sucessivas, sempre mais rápido, é o nosso grande paradoxo. Se os anos se esticam, é sinal de que vivemos mais e, na nossa ansiedade de realizações, queremos que passem mais céleres ainda. E torcemos para que a engrenagem do tempo agilize seus passos. No entanto, assim, envelhecemos! Depois, desejamos ardentemente que ela, por milagre, perca a força e pare. Quantas vezes dizemos que daríamos tudo para o tempo voltar e trazer a felicidade perdida.

Ouvimos pessoas se referirem, com tristeza, à vida que não viveram, ao amor que não assumiram, a um filho que não acompanharam o crescimento ou lamentarem um ente querido que partiu e que esqueceram depressa demais. Houve uma época em que vivi nesse torvelinho de festas, luzes, comidas, champanhe, alegria, família, amigos, etc., na ultima noite do ano. Entretanto, o dia seguinte amanhecia  envolto numa capa de melancolia e cansaço. Era desprazer com o que sobrara, mal estar espiritual,  fome de ser e estar diferente. E resolvi mudar os meus finais de ano. Ultimamente, por opção, eu os passo sozinha em meu apartamento, olhando os fogos ao longe, ouvindo os sons dessa noite maravilhosa e o cântico da cidade. Fico só, mas não me sinto só. Faço meu balanço, assumo minhas perdas e não reclamo dos meus lucros, mesmo se pequenos. E mais: não reparto as horas, não mais divido minhas emoções no antes e no depois. Hoje, simplesmente, vivo inteira e intensamente e sempre 

...acordo o tempo
antes de a noite escoar,
para que tenha mais tempo
de outros sonhos sonhar.
Caminho no beiral do dia,
onde a vida se refaz
em gomos de fantasia...

Sou otimista e os meus desejos são, ainda, como os da minha juventude, porque, afinal, o ano é novo e a engrenagem do tempo se liberta do peso do passado, acelera seus passos e nos permite uma nova chance, um recomeço, seja em que idade for.



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