"Somethings in the rain" - playlist da série

quinta-feira, 20 de junho de 2013

UMA PROPOSTA INDECOROSA (Sobre a PEC 37) - Pedro Simon




JORNAL DO BRASIL 

Uma proposta indecorosa


Pedro Simon*
 
Aos olhos da sociedade, proibir o Ministério Público de promover investigações criminais é uma iniciativa que merece amplo e total repúdio. Mesmo assim, desconsiderando o sentimento da cidadania, é o que determina a Proposta de Emenda Constitucional número 37 em análise na Câmara dos Deputados. Se aprovada, será submetida ao Senado.
 
Uma questão se impõe. A quem beneficia limitar a atuação de procuradores de órgãos como a Receita Federal, por exemplo? Talvez a muitos e por razões diversas. É certo, porém, que os sonegadores estão entre eles. A sonegação no Brasil chega a fantásticos R$ 415 bilhões ao ano! Mais do que arrecada o Imposto de Renda, que recolheu aos cofres públicos, em 2011, cerca de R$ 278 bilhões. E o país, no limiar de uma crise econômica, enfrentando escassez de recursos para investimentos, convive com essa situação.
 
O Ministério Público é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, conforme a Constituição que lhe dedica quatro artigos (127 a 130). Os constituintes de 1988 atribuíram relevância expressiva ao MP, a quem cabe ainda, constitucionalmente, responsabilidade pela defesa do próprio regime democrático. Não obstante, interesses contrariados por investigações e processos de iniciativa de procuradores ameaçam um retrocesso que marcará tragicamente a história do Congresso Nacional.
 
O Brasil, ao contrário, deveria se debruçar sobre a tarefa de modernização da legislação. Delegado de polícia, promotor e juiz deveriam estar abrigados numa carreira funcional unificada. É assim na maior parte do mundo civilizado. O fortalecimento do controle do delegado de polícia sobre o inquérito, e, ainda, cabendo eles a iniciativa da investigação criminal, é algo contraproducente. O cargo de delegado depende dos governadores, do poder político e administrativo; enquanto que ao MP a Constituição garantiu, sábia e prudentemente, autonomia e independência.

ENTENDA A PEC 33 E A PEC 37

  
 
Nos últimos dias, estamos sendo bombardeados por notícias sobre a PEC 37 e PEC 33, vemos manifestações e abaixo-assinados por todos os cantos. Mas poucas pessoas realmente sabem o porquê de tudo isso. O que é a PEC 37 e PEC 33? Por isso, a notícia de hoje é sobre este assunto, extremamente importante para o país.


A PEC 33 atinge o Supremo Tribunal Federal. Caso aprovada, ela modificará a relação entre os três poderes do país, ou seja, permitirá ao Congresso ter controle sobre ações do Supremo Tribunal Federal.

Já a PEC 37 é uma proposta de Emenda à Constituição, conhecido como PEC da impunidade, pois pretende tirar o poder de investigação do Ministério Público. Caso seja aprovada, ela inviabilizará algumas investigações como: desvio de verbas, crime organizado, abusos cometidos por agentes dos Estados e violações de direitos humanos. 
E, para que você entenda um pouco mais sobre essas duas emendas, o Professor Che fez um vídeo onde explica tudo sobre as PEC’s:

Esta matéria foi publicada no "NAÇÃO JURÍDICA",
no link acima.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O SUMIÇO DO SANTO CASAMENTEIRO - Elen de Moraes Kochman




  

O SUMIÇO DO
SANTO CASAMENTEIRO

Procuro, impaciente, a foto do meu santinho casamenteiro. Desde o divórcio – faz tempo! – minha Advogada colocou-a na minha carteira. Reviro bolsas, gavetas e não a encontro. Sumiu! O Santo se escondeu, talvez, exausto de interceder pelos solitários. Embora não creia que me vá arranjar marido, não quero sair de casa sem ele, logo hoje no seu dia – dos namorados – mas vejo que é o jeito! 


Com o tempo, a gente se apega às manias: sempre ando duas quadras antes de entrar num taxi. Não gosto que saibam onde moro. O motorista, um senhor simpático, muito perfumado àquela hora da manhã, fala mais do que dirige, embora sua conversa seja agradável. Enquanto fala, olha-me pelo retrovisor e acho aqueles olhos os mais azuis que já vi. Azuis ou verdes? Não confiro, porque o homem pode pensar que correspondo ao seu flerte. Que palavra antiga! Será que os jovens usam-na quando olham para alguém, com interesse, insistentemente, tantas vezes, até que tenham certeza de serem correspondidos? 



Paramos em frente a um centro comercial. Pago a corrida. O motorista estende a mão com um cartão. Comenta que é seu telefone, se precisar de um taxi. Pego, agradeço e ele diz que é para o caso, também, se precisar de um amigo para tomar um vinho. Grande namorador! Olho para sua aliança e jogo o cartão no banco, dizendo-lhe para levar rosas à esposa.

O movimento é intenso. Em meio a tantos casais abraçados, pareço barata tonta vagando pelos corredores. Não sei o que faço ali. Se admitisse, diria que saí de casa com a esperança de conhecer alguém especial.  Cansada, o sapato de salto alto, que uso raramente, incomoda-me. Dirijo-me à praça de alimentação para dar uma trégua aos pés e um agrado ao estomago. Sento-me, olho em volta e um susto me acelera o coração: Virgem Santa, quantas mulheres sozinhas tiveram a mesma idéia! Jesus, cadê os homens! Os mais moços, no trabalho, certamente. E os bem mais velhos, aposentados, em casa, vendo TV, na internet, adoentados ou já partiram mesmo, "desta para melhor".  Pasma, perco a fome. Levanto-me e saio.

No andar de baixo um casal me pede para responder uma enquete para sua agência de publicidade, que pesquisa o presente que uma mulher, na minha faixa etária, gostaria de receber no dia dos namorados. – Um namorado! Respondo e os deixo sorrindo. Penso sobre o que gostaria de ganhar e concluo que, já que namorado não vai ser, uma sandália rasteirinha,  que me deixe com os dedos à vontade, será um presente dos deuses. Entro numa sapataria, sento-me, tiro os sapatos, estico as pernas como se estivesse em casa e flexiono os dedos martirizados. Como é gostosa a liberdade! Danem-se as regras sociais. 

Uma voz masculina pergunta-me o que desejo e me traz à realidade. Solícito, mostra-me vários modelos. Impressão ou ele acaricia meus pés enquanto me ajuda a calçá-las? Credo, que imaginação! Porém sinto que o sangue devolve vida às minhas pernas e espanto-me com meus pensamentos. Pago, saio e volto a cabeça para olhar o funcionário: minhas dúvidas se confirmam vendo seu olhar maroto. À noite ele terá divertidas histórias e muitas fanfarronices para contar aos amigos.

Já não aguento andar e não quero voltar para casa. Entro numa das salas de cinema. É cedo para a primeira sessão, mas estão abertas. Compro chocolate e pipoca, acomodo-me num ótimo lugar, recosto a cabeça e fecho os olhos. Alguém toca meus ombros. Olho para trás e um senhor pergunta-me se pode sentar-se ao meu lado, para conversarmos. Não respondo. Ele insiste. Diz que faltam uns quinze minutos para iniciar o filme e que podemos passar o tempo nos conhecendo. Sem esperar resposta, dá a volta, quase se joga no assento e antes que eu reclame, diz sorrindo, mostrando bonitos dentes: – Hoje desisti de esperar a morte em casa. Decidi sair e arrumar uma namorada. 

A “cantada” é diferente, mas um tanto mórbida. Olho-o com o rabo dos olhos e deduzo que não parece ser um tipo mulherengo. Vá saber!  Deve ter entre setenta e oitenta anos. Maliciosa, me questiono se ele ainda namora. 
O homem pede que eu fale alguma coisa. Corto o silêncio:
–  Casado? 
–  Não!
–  Mentiroso?
–  Não! E você, o que faz aqui hoje? 
–  Vim comprar uma sandália – E mostro meus pés.
–  Mentirosa? – Não respondo.

Rimos muito e nos apresentamos.



(Será mera coincidência qualquer semelhança da vida de alguém com este conto)


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Nhenhenhen... (dia dos namorados) - Elen de Moraes Kochman



 Nhenhenhen
 
- dia dos namorados -

Elen de Moraes Kochman

Namorados: hoje é o dia!
De novo aqui... e sozinha!
Lateja, em mim, agonia
do enredo que se avizinha.

Será que em benditos braços,
o meu guerreiro descansa
do seu corpo, os bagaços...
o seu arco e a sua lança?

Em que pele acetinada
sua ágil língua passeia?
Em que boca alucinada
a sua, agora, tateia?

A quem será que oferece,
do seu porto, a segurança?

Será que alguém se enternece
com seu jeitão de criança?

O meu corpo, em fogo brando,
apaga aos poucos, sem dono...
Não sei quanto e até quando
suportarei o abandono.

E nem sei se quero mais
que chegue a qualquer momento!
Que venha ou não... tanto faz!
só quero o fim do tormento.

De tanto sonhar esqueço
que me espera um outro alguém...
Desta vez... ou enlouqueço,
ou dou fim ao nhenhenhem! 



Nem tudo que um poeta escreve se refere 
às suas dores, aos seus amores,  
enfim, à sua vida particular.



    AUTOPSICOGRAFIA


    O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.



    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.



    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama coração.

    Fernando Pessoa
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

VOZ: Elen de Moraes Kochman - Elegia do adeus

Outras postagens

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Rio de Janeiro - Br

Rio de Janeiro - Br
Aterro do Flamengo - ressaca

Amanhecer no Rio de Janeiro

Amanhecer no Rio de Janeiro

Amanhecer no Rio de Janeiro

Amanhecer no Rio de Janeiro

Nevoeiro sobre a Tijuca

Nevoeiro sobre a Tijuca
Rio de Janeiro

Tempestade sobre a Tijuca

Tempestade sobre a Tijuca
R< - Br

Eu me perco em teu olhar...

Eu me perco em teu olhar...