"Somethings in the rain" - playlist da série

domingo, 16 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL - ( Noite Feliz Noite - Elen de Moraes Kochman)








Ser ou não ser - Hamlet - (William Shakespeare)

 
Ser ou não ser...

William Shakespeare


"Hamlet"


Ser ou não ser, eis a questão.
Será mais nobre em espírito viver
Sofrendo os golpes e as frechadas da afrontosa sorte
Ou armas tomar contra um mar de penas.
Dar-lhes um fim: morrer, dormir...
Só isso e, por tal sono, dizer que acabaram
Penas do coração e os milhões de choques naturais
Herdados com a carne? Será final
A desejar ardentemente... Morrer, dormir;
Dormir, sonhar talvez... Mas há um contra,
Pois nesse mortal sonho outros podem vir,
Libertos já do mortal abraço da vida...
Deve ser um intervalo... É o respeito
Que de tal longa vida faz calamidade
Pois quem pode suportar do tempo azorrague
e chufas,
Os erros do tirano, ultrajes do orgulho,
As angústias de amor desprezado, a lei tardia,
A insolência das repartições e o coice destinado
Pelos inúteis aos meritórios pacientes?
Para quê se pode aquietar-se, acomodar-se,
Com um simples punhal? Quem suportará,
Suando e resmungando,vida de fadigas
Senão quem teme o horror de qualquer coisa após a morte,
País desconhecido, a descobrir, cujas fronteiras
Não há quem volte a atravessar e nos intriga
E nos faz continuar a suportar os nossos males
Em vez de fugir para outros que desconhecemos?...
Assim a todos nos faz covardes nossa consciência,
Assim o grito natural do ânimo mais resoluto
Se afoga na pálida sombra do pensar
E as empresas de mor peso e alto fim,
Tal vendo mudam o seu rumor errando
E nada conseguindo! Sossega agora...
Ofélia gentil? Ninfa, em tuas orações
Sejam sempre lembrados meus pecados.

Tradução de José Blanc de Portugal,
Editorial Presença, 3ª. ed., 1997)

WIILLIAM SHAKESPEARE
(1564-1613)
 

 Ser ou não ser - eis a questão.

 

Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso.
E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.

Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.

Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?

Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?

E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do
pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.


(Hamlet, Ato III, cena 1)




domingo, 9 de dezembro de 2012

QUARESMA, ALMAS PENADAS E CRENDICES - Elen de Moraes Kochman



Quaresma, almas penadas e crendices


Elen de Moraes Kochman




Quem nasce nas cidadezinhas do interior do Brasil cresce ouvindo, invariavelmente, histórias que passam dos pais para os filhos, sem que se saiba explicar como surgiram, se são verdadeiras ou não e na Quaresma elas tomam maiores proporções, porque é a época preferida dos contadores nos assombrarem com seus causos de almas do outro mundo, superstições e outras crendices. Contadas - nas rodas de amigos, nos bares, em torno das fogueiras acesas em noites frias, em reuniões de família, entre vizinhos ou nas cozinhas das antigas fazendas enquanto se aproveita o calorzinho do fogão a lenha - para a maioria são digeridas como bom divertimento; para outros, principalmente crianças, causam terror e influenciam, muitas vezes, a sua vida adulta.

Ouvi muitas dessas historinhas na minha infância. Quando ainda pequenina, meus pais mudaram-se do Rio de Janeiro para Iúna, pequena cidade no interior do Estado do Espírito Santo, e fomos morar numa fazenda que pertencera à família paterna. O casarão à beira da estrada, abandonado por ser mal assombrado, diziam, estava lá, resistindo ao tempo. Os vizinhos evitavam passar por ali à noite porque tinham a impressão de ouvir pessoas arrastando os pés, ao som do piano, como se dançassem. Contava-se que seu dono -  o meu bisavô Theodoro - nos finais de semana, ao anoitecer, trancava a esposa e os filhos menores em seus quartos e recebia os amigos e suas “namoradas” para festinhas, à luz dos lampiões, ao som do piano que ele tocava muito bem. Dançavam e bebiam até altas horas


Deixou, ao morrer, ordens expressas proibindo a venda daquele instrumento. E no canto da sala o encontramos ao ocuparmos a casa. Foram semanas terríveis ouvindo os “tais fantasmas” dançando madrugada adentro, até que meu avô decidiu desvendar o mistério e destruiu o piano ao exterminar os ninhos de ratos que nele encontrou. Se as almas penadas se foram porque eram ratos ou porque o piano foi destruído, jamais se descobriu. Tempos depois fomos embora dali porque os boatos dos vizinhos sobre pessoas vestidas de branco entrando e saindo da casa, à noite, acabaram  por minar a nossa resistência. 

Tornei-me adolescente ouvindo causos de fantasmas vagueando pelos cafezais, mula sem cabeça,  etc., e mesmo sem acreditar nessas histórias, desenvolvi uma esquisita mania: quando estou sozinha em casa de estranhos ou em hotéis, só consigo dormir se me deitar ao contrário, com a cabeça virada para os pés da cama. E nunca no escuro!  A análise ajudou-me a descobrir que era medo de estar ocupando o lugar de alguém que já tivesse morrido. O medo eu perdi. A mania não.

Há muitas histórias engraçadas pelo nosso Brasilzão, como a do Senhor Zé Magalhães, contada ao repórter Luiz Gustavo, para o jornal Hoje, da TV Globo. O homem em questão, diante de testemunhas, confirmou que ensaiou o próprio velório. Chamou alguns amigos, pagou umas crianças para chorar - que acabaram por rir o tempo todo - entrou num caixão, enfeitaram-no com flores, tiraram fotografias e velaram o “corpo” por algum tempo. Perguntado sobre o que o levara a essa atitude, respondeu que queria saber como organizar e ver o resultado de como seria o seu funeral. 

Outro “causo” conhecido e interessante é o do Padroeiro de Costa Rica, cidade do Estado do Mato Grosso do Sul, que se destaca por suas belezas naturais, mas ficou famosa pela historia do seu Santo fujão. Conta-se que o major Martim Gabriel de Melo Taques e sua esposa fugiram da guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, nos meados de 1800 e se instalaram no Mato grosso, levando consigo uma imagem do Senhor Bom Jesus. Fundaram a Fazenda Santo Antonio dos dois córregos e nela construíram uma capela para a Imagem. Após a morte do major, os moradores continuaram cuidando da capela. Muitos anos depois, construíram outra maior na cidade, porque a antiga caia de tão velha. No dia seguinte à mudança da imagem, constataram que o Senhor Bom Jesus havia voltado, à noite, para a antiga capela, lá na fazenda. Trouxeram-no de volta e ele tornou a fugir. Quantas vezes o buscavam, tantas ele fugia. Assombrados, os fieis não vendo outra saída, cortaram os pés do Santo e dizem que ele nunca mais fugiu.

Hoje em dia essas histórias já não têm a mesma graça, nem nos assustam ou arrepiam, porque são contadas pela televisão, em sites da internet, com reportagens mostrando em vídeos os locais dos acontecimentos, desmistificando-as.  Além do mais, perderam o mistério, a conivência das sombras da noite, que era o que as faziam medonhas e eloquentes, pois atiçavam a nossa percepção e nos estimulavam a imaginar criaturas tétricas, como exigia nossa fantasia.



O BEIJO DA BORBOLETA - José M. Raposo

 
 
 
O BEIJO DA BORBOLETA

 
 
José M. Raposo
(AoSaborDoVento)


Para minha amiga Elen de Moraes 



 Mais um ano a borboleta voou,
Pisando, muitas vezes, numa flor
Com a mesma graça e com o mesmo amor.
E de voar ela não se cansou.


Em pleno ar seus desenhos traçou,
Emprestando-lhes a vida e a cor,
Como empresta e lhes concede o pintor,
Quando a pintura na tela encerrou.
  


Por vezes, desabrocha tanta flor
Sem que a borboleta as tenha beijado...
Choram infelizes e sentem dor...


Porém, a que a borboleta há tocado,
Há de sentir, para sempre, o calor
Desse beijo... tão louco e apaixonado.  


  




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